Opinião

A Saúde da Zona Sul está na UTI. Precisamos agir!

Por Marcelo Sclowitz
Diretor da Região Sul do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul

O Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers) vem chamando a atenção e buscando catalisar ações do poder público há muito tempo, a respeito dos impactos danosos dos descuidos com a saúde pública de nossa região. Além do eixo Pelotas-Rio Grande, a crise também acomete cidades vizinhas como São Lourenço do Sul, onde na Santa Casa local, médicos e funcionários estão sem receber ou com atrasos e parcelamento dos salários, fruto também da falta de recursos por parte do poder público, o que também pode a qualquer momento levar à suspensão de atendimentos à população. O Simers foi parceiro e idealizador da frente para a reconstrução financeira da Santa Casa de Rio Grande, que se tornou o primeiro hospital do RS a ingressar com um pedido de Recuperação Judicial, o que lhe deu fôlego para manter suas atividades, mas ainda carece de cuidados intensivos.

A região sul do nosso Estado vem passando por uma das maiores crises na saúde pública já enfrentadas nos últimos anos. Em Pelotas atuamos em diversas crises, entre elas a insuficiência de profissionais médicos na UPA Areal, falta de pediatras e cirurgiões no Pronto-Socorro, falta de anestesistas no Hospital Escola e em problemas de ordem estrutural da rede de saúde municipal e regional. Primamos sempre pela valorização do trabalho do médico, mas sempre com olhar mais sistêmico, buscando soluções para deficiências de toda a estrutura e de outras categorias atuantes no setor da saúde, com o objetivo maior de promover a assistência adequada para a população. Infelizmente, mesmo com todo empenho, tivemos poucos avanços significativos em razão da dificuldade de sensibilizar e mobilizar outros agentes que, no nosso entender, poderiam e deveriam atuar de forma mais efetiva contra este cenário tão preocupante.

Recentemente, com a publicização dos atrasos na folha de pagamento dos servidores municipais, incluindo os médicos, nós do Simers avaliamos o fato como mais um sinal da grave crise instalada, mais um fato que demonstra que precisamos agir de forma emergencial, pois Pelotas é referência para o atendimento SUS de mais de 20 municípios dos arredores, mais de um milhão de vidas estão em jogo. É urgente que se socorra os hospitais filantrópicos da cidade, Santa Casa, Beneficência Portuguesa, Hospital São Francisco de Paula e Hospital Espírita, que acumulam dívidas e prejuízos superiores a R$ 200 milhões, e que já operam com cerca de 50% de seus leitos fechados em função da crise.

A saúde não é tratada como prioridade e todos os entes não tomam verdadeiramente para si o seu dever constitucional de garantir a saúde da população. Há muito, esta responsabilidade tem sido terceirizada para os prestadores de serviços de saúde que, como já citamos, não suportam mais carregar este fardo e pagar esta conta. Assim, está mais do que na hora de nossos governantes agirem, pois só eles têm o poder (e o dever) de resolver esta situação de caos iminente. Nós, como sociedade, entidades afins, autoridades do Poder Público, lideranças civis e políticas, precisamos agir com urgência e exigir os direitos da nossa população. Do contrário, em pouquíssimo tempo veremos uma saúde com problemas crônicos, que vive entrando e saindo da UTI, sucumbir definitivamente, deixando ainda mais pessoas em filas de espera, em corredores de emergências, tendo sua saúde agravada e morrendo por omissão daqueles que tem o poder de agir e transformar a realidade.

Precisamos agir! De forma conjunta, emergencial, concreta e efetiva. Temos que reverter esta gravíssima crise na saúde da nossa região sul.

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